É cedo.
É bem cedo que começamos a conhecer o medo.
Do bicho-papão, da polícia, do bandido.
De espíritos, do governo, dos destemidos.
Da chuva que desabriga. Dos homi chegarem na vila.
É cedo.
É bem cedo que começamos a entender que o medo,
é normal.
E quando se acha normal algo errado, ruim,
nossa silhueta se desprende da nossa alma,
do corpo,
e uma sombra, uma sombra de nós mesmos,
passa a nos aterrorizar em silêncio.
E eles vencem. Eu juro que é assim.
Eu nada temia antes de conhecer o medo
Mas foi assim, para entender o medo,
que pude ter coragem, companheiro.
Era isso ou o ódio por inteiro;
Eu escolhi caminhar junto de minha sombra
e quando aprendi a decidir as coisas quais deveria temer
de repente fiquei mais forte
de repente me tornei livre
e quando alguém se mete a decidir quem ou o quê
devo temer ou aquilo que devo fazer
parece que inflamam minhas cicatrizes
eu fervo a ponto de rir
da tirania que vive cativa